quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O ABISMO
 
 
Com a sua pele de poço, pele comprometida com o 
medo que no fundo fede e a que, digamos, toda ela adere 
de uma forma resoluta, dir-se-ia que se engancha, se pen-
dura, o branco da memória a alastrar pelo corpo, um bran-
co tão branco como o das noites em branco e sobre o qual 
a idade, exorbitada, hiante, se insinua, pensos, ligaduras, 
impregnados de memória, uma memória onde fulgura a 
lava dos sentidos que entram em actividade e lhe dis-
putam os dias idos, assim ergue a balança, onde sustém 
o abismo.



Luís Miguel Nava
Vulcão II
Poesia Completa
1979-1994
Prefácio de 
Fernando Pinto do Amaral
Organização e Posfácio de
Gastão Cruz
Publicações D. Quixote
2002

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